Finanças Comportamentais: como a sua mente afeta o seu bolso?
Nós não somos perfeitamente racionais, e nosso inconsciente afeta sistematicamente as nossas decisões financeiras.
Esses deslizes mentais nos levam a poupar pouco para o futuro, não nos preparar para emergências, comprar por impulso, ceder a apelos publicitários, não conseguir cumprir nossas metas e sonhos e enfim, a termos uma vida pior do que ela poderia ser.
Neste texto vou dar uma introdução mais formal do que são essas tais finanças comportamentais, dar algumas referências sobre o assunto (caso você queira ler mais) e, ao fim, uma lista de posts em que dividi os vieses por assunto.
Não se assuste com o economês inicial. É só para dar uma te dar uma apresentação mais formal.
Ao fim deste texto, você verá alguns links que te levarão aos vieses mais comuns. Lá explico como eles nos afetam – e é claro – aponto soluções práticas para enfraquecer o efeito dessas más influências na sua vida.
Racional? Eu?
A teoria clássica de economia e finanças tem como uma de suas premissas a racionalidade dos agentes (pessoas, famílias, empresas).
Por racionalidade, entendemos que esses agentes representativos fazem escolhas tentando maximizar suas utilidades (prazer, bem-estar, etc) dadas suas restrições de recursos (tempo, dinheiro, etc), e se possível, tendo em mente que os demais agentes são também racionais (pensamento que deriva da teoria dos jogos).
Quando queremos fazer uma análise mais profunda sobre as decisões dos indivíduos, vemos que a hipótese de racionalidade – em diversos momentos – não traduz a realidade de forma adequada.
A partir da retirada dessa hipótese, surge um novo campo de estudo, que envolve ciências comportamentais (ex.: psicologia) e economia para tentar entender as decisões dos indivíduos levando em conta a irracionalidade. É a economia comportamental.
E quando vamos ao escopo da gestão do dinheiro, chegamos então às finanças comportamentais.
Heurísticas e Vieses
A irracionalidade não é estudada apenas como ausência de racionalidade, mas como um processo sistemático de nossa mente. Exemplo desse estudo é a lista de heurísticas e vieses que você encontra ao fim deste texto.
As heurísticas são regras de bolso (ou atalhos mentais) que agilizam e simplificam a percepção e a avaliação das informações que recebemos.
Se por um lado elas simplificam nossas decisões, por outro, elas podem nos induzir a erros. Quando esses erros ocorrem de forma sistemática e previsível, nós as chamamos de vieses.
Referências
As listas abaixo foram criadas com base no brilhante trabalho da Comissão de Valores Mobiliários, que tem papel de liderança no estudo e propagação da economia comportamental no Brasil. Você pode encontrar as cartilhas CVM Comportamental no site da autarquia (link aqui).
E se você se interessar ainda mais por ciências comportamentais – ou se apenas quiser ler um ótimo livro – recomendo a obra-prima Rápido e Devagar, do Nobel de Economia Daniel Khaneman.
Listas de Vieses
Vamos finalmente ao prato principal! Veja as listas que preparei para você:
Consumo: Como a publicidade engana a sua mente?
- Vieses abordados: comportamento de manada (efeito adesão), halo, ancoragem, aversão à perda, enquadramento e status quo.
Consumo: como vencer as compras por impulso (e outras tentações)
- Vieses abordados: viés do presente, desconto hiperbólico e falta de empatia.
Orçamento: 3 vícios que arrebentam qualquer planejamento financeiro
- Vieses abordados: crescimento exponencial, falácia do planejamento e ancoragem.
Emergência! 3 vícios que te atrapalham a lidar com imprevistos (e como contorná-los)
- Vieses abordados: otimismo excessivo, efeito avestruz e ilusão de controle.
Independência Financeira: como a sua mente te atrapalha a chegar lá
- Vieses abordados: otimismo excessivo, crescimento exponencial e status quo.
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Um abraço!
- Published in Finanças Comportamentais #1 - Consumo
Consumo: Como a publicidade engana a sua mente?
A propaganda usa diversas técnicas com um objetivo bem claro: fazer com que você compre! E não existe nenhum problema em tentar vender um produto.
O problema é quando você fica na parte frágil da balança e não consegue se defender de técnicas que usam as falhas da sua mente para fazer que você compre – ainda que irracionalmente.
E é por isso que você deve conhecer as heurísticas e vieses estudadas pelas finanças comportamentais.
As heurísticas são regras de bolso (ou atalhos mentais) que agilizam e simplificam a percepção e a avaliação das informações que recebemos.
Se por um lado elas simplificam nossas decisões, por outro, elas podem nos induzir a erros. Quando esses erros ocorrem de forma sistemática e previsível, nós as chamamos de vieses.
Confira a seguir uma lista de 6 vieses que nos fazem torrar dinheiro por impulso e que atrapalham o seu orçamento.
Vamos lá!
Sumário
[toc content=”#vieses” headers=”h2″ anchor-text=” #”]Efeito Manada (ou Efeito Adesão)
É a tendência em crer ou fazer algo porque todos estão fazendo. É o famoso comportamento de manada. O ser que é muito afetado por esse viés é chamado de maria-vai-com-as-outras.
Mas como sua mãe diria, você não é todo mundo, meu filho.
Brincadeiras à parte, essa heurística realmente faz sentido. Ela não é sempre ruim. Se tá todo mundo fazendo, deve haver algum bom motivo… para essas pessoas, ao menos.
Já para você e para o seu momento de vida, é preciso parar para pensar.
Além disso, é confortável se sentir inserido e aceito num grupo.
Muitas vezes a popularidade realmente é um sinal de segurança e confiança, dado que outras pessoas já testaram e aprovaram o produto ou serviço. Outras vezes, é explorada pela propaganda para te induzir a comprar algo que você não precisa – e pior, não tem nem dinheiro para tal.
Exemplos:
- “O estoque está acabando! Últimas unidades!”
- “O mais concorrido da região”, “a marca mais comprada”
Efeito Halo
Halo ou auréola é um anel luminoso que circunda a cabeça das pessoas na arte, geralmente santos. Essa luz dourada serve justamente para transmitir o caráter divino do retrato.
E é daí que vem o nome deste viés, em que nossas impressões sobre uma característica de uma pessoa influenciam nosso julgamento sobre outras características que não necessariamente têm algo a ver com a primeira.
É o famoso “a primeira impressão é a que fica”.
É uma heurística que nosso cérebro usa para tentar definir um todo a partir de poucas informações disponíveis.
Exemplo:
- Uma marca usa uma cantora famosa para expor um produto. O que a Ivete tem a ver com supermercado? O que a Anitta tem a ver com sabonete? Nada, mas eles evocam boas ideias e sentimentos, e a intenção é transmitir essa fama e familiaridade que temos com o artista ao produto.
Ancoragem
Uma informação recentemente exposta tem grande peso numa decisão, ainda que ela não tenha nada a ver com o que é decidido.
Exemplo:
- Palavras como “promoção”, “uma bagatela” x “caro”, salgado” afetam inconscientemente a sua percepção de preço.
- De
R$120por R$60: às vezes não é uma promoção, sempre foi 60. É aquele famoso “metade do dobro”.
Aversão à Perda
Sentimos mais as perdas do que os ganhos. Isso é ruim porque corremos riscos desnecessários para tentar reaver perdas. Tem tudo a ver com a falácia dos custos afundados.
Exemplos:
- “Essa oportunidade é imperdível, e só está disponível para você até a meia noite de hoje”
- Como o senhor vai perder essa oportunidade de pegar esse empréstimo pré-aprovado no seu cartão de crédito?
Efeito de Enquadramento
A decisão é afetada por como o problema é apresentado. Diversas vezes, o principal não é o conteúdo: é a forma de falar.
Exemplo:
- Copo meio cheio versus copo meio vazio. É a mesma coisa, só muda a forma de ver.
- Você pode até estar falando a coisa certa, mas se for arrogante ou não passar confiança, a sua opinião será desconsiderada.
- Diversas propagandas – inclusive de serviços financeiros – escondem os riscos e exaltam hipotéticos ganhos passados. Não só a Empiricus, mas a publicidade em geral faz muito isso, o que leva o consumidor a tomar decisões superotimistas, vislumbrando apenas o cenário positivo e esquecendo do cenário negativo.
Viés do Status Quo
É a preferência por manter o estado atual, a tendência por não alterar a opção padrão, por permanecer inerte.
Exemplos:
- Cheque especial ou cartão de crédito já acoplados na abertura da conta, sem que você tenha pedido, mas você deixa passar porque é a opção padrão.
- Serviços por assinatura se aproveitam desse viés. A partir do momento que você aceita ter aquele valor debitado todo mês da sua conta ou cartão, a empresa sabe que é muito mais difícil você deixar de consumir do que se você tivesse que renovar a assinatura todo mês.
Maneiras de Contornar esses Vieses
- Nunca compre sob pressão! Se estiverem te fazendo muita pressão para você comprar algo agora, é porque provavelmente a ideia não é boa e ninguém quer comprar. Volte para a casa, tome um tempo, respire e veja se é isso mesmo que você quer e pode comprar.
- A maioria gosta daquele produto. Você também. Mas para o seu caso específico e o seu momento de vida, esse produto é o mais adequado para você? Pode haver algo melhor e/ou mais barato!
- Publicidade realça os pontos positivos de um produto. É seu papel ir atrás dos pontos negativos e dos riscos para colocar tudo na balança.
- Qual é realmente o padrão de referência que você deve se basear na hora de avaliar um preço? Certamente não é o do vendedor. Para não ser enganado por falsas âncoras, faça pesquisa de mercado e, se possível, pergunte a um amigo que conheça mais esse tipo de produto.
- Não tomar decisão de compra ou investimento por impulso. Veja quais informações realmente fazem sentido para o que você quer. Pergunte para mais de uma fonte de especialistas.
- Ao ver o benefício de um produto, ache quais são seus riscos e possíveis malefícios. Tudo (e todos) têm um lado bom, um lado ruim e riscos, e isso é normal. A sua tarefa enquanto consumidor é pesar os dois lados e os riscos inerentes ao negócio, pra ver se fazem sentido com seus objetivos.
- Se a propaganda traz muitos elogios, mimos e distrações, desconfie. Podem estar tentando desviar a sua atenção dos riscos e malefícios.
- Reveja todos os seus serviços por assinatura a cada 6 meses. É só colocar um evento no calendário do celular que se repete a cada 6 meses. Pronto, você nunca mais vai esquecer
Resumo do Resumo
- Efeito Manada (ou Efeito Adesão): “tá todo mundo comprando!”
- Efeito Halo: gente famosa na propaganda
- Ancoragem – de
R$120por R$60 (metade do dobro) - Aversão à Perda – “Como você vai perder essa chance? Tempo limitado!”
- Efeito de Enquadramento – Tudo tem 2 lados, a publicidade ressalta o bom. Você deve pesquisar o lado ruim e pesar os dois.
- Viés do Status Quo – Assinaturas te prendem eternamente (pagar a academia e não usar).
E esses foram os vieses que a publicidade usa exaustivamente para tentar fazer com que você compre mais. E agora você sabe como desviar dessas armadilhas!
Agora dê uma olhada nos vieses que podem te fazer comprar por impulso: mesmo que não haja propaganda nenhuma no caminho. É só clicar aqui!
E se você gostou dessa lista aqui, compartilhe com seus amigos e com a sua família!! Pequenos atos mudam as finanças de uma pessoa.
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Um abraço!
- Published in Finanças Comportamentais #1 - Consumo
Consumo: como vencer as compras por impulso (e outras tentações)
Se você consistentemente gasta mais do que ganha (ainda que ganhe bem), se sente bastante prazer em gastar, se o cartão de crédito na sua mão é uma bomba-relógio e se você já está fazendo amizade com os vendedores das lojas… bom, não preciso nem falar para você tomar cuidado, porque provavelmente você já sabe e alguém já deve ter te falado isso.
O que eu preciso te falar, é que as finanças aprenderam muito com a psicologia e elas têm algumas boas pistas para melhorar a vida do que eu chamo de devedor crônico.
E é por isso que você deve conhecer as heurísticas e vieses estudadas pelas finanças comportamentais.
As heurísticas são regras de bolso (ou atalhos mentais) que agilizam e simplificam a percepção e a avaliação das informações que recebemos.
Se por um lado elas simplificam nossas decisões, por outro, elas podem nos induzir a erros. Quando esses erros ocorrem de forma sistemática e previsível, nós as chamamos de vieses.
Confira a seguir alguns vieses que te levam a fazer compras por impulso e a ceder a tentações em geral – e é claro, vou te mostrar também algumas formas de contorná-los.
Vamos lá!
Sumário
[toc content=”#vieses” headers=”h2″ anchor-text=” #”]Viés do Presente e Desconto Hiperbólico
Viés do Presente: tendência a dar muito mais peso a eventos próximos do que distantes.
Viés do Desconto Hiperbólico: é a tendência de, dadas duas taxas de retorno iguais, preferir ganhos próximos do que distantes. Exemplo clássico: dada a escolha entre receber 100 hoje ou 110 amanhã, a maioria prefere a 1ª opção (100 hoje). Já se a escolha for entre receber 100 daqui a um mês ou 110 daqui a um mês e dia, a maioria prefere a segunda opção (que parece uma opção mais saudável).
Racionalmente, nada disso faz sentido, pois as taxas de retorno são iguais. Em ambos os casos, se você aguardar mais um dia, você ganha 10 reais.
O problema desses viéses é não resistir a tentações imediatas. A pessoa que sofre com esse viés não lida bem com gratificação tardia, e por isso mesmo, vê pouca importância ou tem muita dificuldade em poupar.
Afinal de contas, poupar significa deixar de consumir agora para consumir mais no futuro.
Como visto no viés do desconto hiperbólico, a pessoa talvez saiba que poupar é importante e queira de fato fazê-lo, mas as tentações por gratificação imediata superam sua força de vontade e autocontrole.
Ela acredita inclusive que amanhã terá o autocontrole necessário para tomar a decisão correta. E sempre deixa a decisão correta para amanhã…
Essa falta de autocontrole atrapalha diversas áreas da vida, podendo gerar graves transtornos de saúde e relacionamento.
Exemplos:
- “hoje eu mereço” / “só hoje”
- “amanhã eu começo”
- dívidas recorrentes no cartão de crédito
- o devedor crônico: aquele que consistentemente gasta mais do que ganha e que faz compras por impulso.
Falta de Empatia
Empatia é a capacidade de se identificar emocionalmente com outra pessoa. Quando a empatia falta, o indivíduo não apenas é incapaz de se colocar no lugar do outro, mas não consegue se colocar no lugar de si mesmo em outro estado emocional.
Exemplo:
Quando estamos agitados temos dificuldade de lembrar ou sentir o que sentimos quando estamos calmos. E isso pode significar decisões diferentes apenas por conta de um estado emocional.
Maneiras de Contornar esses Vieses
- Coloque um limite mais baixo para o cartão de crédito. Quanto? Você vai descobrir isso fazendo o seu orçamento.
- E falando em orçamento, é importante que você separe uma quantia para gastar como quiser. Não é lazer, não é nada previsto. É supérfluo mesmo.
- Para evitar compras por impulso, ao se deparar com a tentação, faça 3 perguntas:
1. Tenho dinheiro para isso?
2. Eu realmente quero isso?
3. Não posso deixar para comprar depois?
Geralmente essa última pergunta te dá tempo para refletir e você chega à conclusão que nem podia e que nem queria tanto assim. - Peça para um amigo te ajudar a se controlar – seja com o impulso de compras ou com a dificuldade de poupar. É importante poder contar com amigos. Caso ele tenha o mesmo problema, os dois podem se ajudar, o que é ótimo.
- Evite tomar decisões de cabeça quente, com fome, raiva, ou em qualquer abalo emocional. Pare, respire, tente lembrar o que você (ou alguém muito calmo e bondoso) faria nessa situação.
- Não vá ao mercado com fome.
- Se você se considera muito impulsivo e tem tendência a gastar a reserva que você está fazendo para emergências, então tire-a do alcance dos seus olhos. Reserve-a em Tesouro SELIC numa corretora independente, fora do seu banco, que você tenha que fazer um login no aplicativo e vender o título pra depois pedir o resgate do dinheiro. Assim, a tentação de tomar uma decisão errada de cabeça quente pode ser vencida por essa pequena barreira de 1 dia que você colocou.
- De modo geral, se você é impulsivo, invente alguma barreira (física ou social) para conter o seu impulso.
Resumo do Resumo
- Viés do Presente e Desconto Hiperbólico – você sabe o que é o certo a se fazer, mas as tentações imediatas vencem a sua força de vontade. Dê tempo a si mesmo, deixe a sua tentação só para amanhã… até lá ela passa.
- Falta de Empatia – Pare, respire e não pire. Não decida com fome ou estressado. Você vira outra pessoa com fome ou estresse (e você é mais legal estando calmo e alimentado 😉 )
E esses foram alguns vieses que te fazem comprar por impulso. E agora você sabe como desviar dessas armadilhas!
Você também pode conhecer outros vieses que atrapalham o seu bolso dando uma olhada em nossa playlist de finanças comportamentais. É só clicar aqui!
E se você gostou dessa lista aqui, compartilhe com seus amigos e com a sua família!! Pequenos atos (e pequenos hábitos) podem mudar a vida financeira de uma pessoa pra sempre.
E para nossos vídeos chegarem mais fácil até você, se inscreve aqui em nosso canal: youtube.com/jurosbaixos 😀
Um abraço!
- Published in Finanças Comportamentais #1 - Consumo