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Ao cruzar as curvas de oferta e demanda, encontramos um preço e uma quantidade de “equilíbrio”

Já faz um tempinho, mas no post passado, começamos a explicar como funciona o mercado de dólares (ou qualquer outra moeda estrangeira) no Brasil. A intenção é continuar nesse assunto, porém, há um ferramental essencial que precisa ser desenvolvido antes de explorarmos este ou qualquer outro mercado: oferta e demanda.

Se você já conversou com um economista, já deve ter ouvido falar nesses conceitos. Junto com os conceitos de tradeoff e o de custo de oportunidade (explicado aqui pelo nosso amigo Lereno Soares), é talvez o mais importante em qualquer curso introdutório de Economia.

Sua lógica é bem simples e já foi abordada parcialmente no post passado, no nosso exemplo da feira de batatas: se temos proporcionalmente muitos vendedores de batatas em relação aos compradores, é natural que os consumidores tenham certo “poder de mercado” e sejam capazes de negociar com os feirantes para comprar batatas a preços menores.

Da mesma forma, se há muitas pessoas ávidas por batatas, mas apenas uma ou duas barracas, quem tem o maior poder de barganha são os vendedores. Na base do “quem dá mais?”, podem extrair o máximo de lucro que conseguirem, a depender do quanto os possíveis consumidores estão dispostos a pagar pelas batatas.

A lógica é a mesma se quisermos generalizar essa teoria: num mercado, via de regra, quanto maior a oferta por um bem – dada uma certa demanda – menor será o preço deste. Da mesma forma, quanto maior a demanda por um bem – dada uma oferta fixa – maior será o preço no qual eles serão comercializados. O inverso vale para ambos os casos.

À luz dessa simplificação, vamos analisar uma série de exemplos interessantes para fixar o conceito – e perceber que essas leis são mais presentes no dia-a-dia do que se imagina.

Você já ouviu falar de precatórios? O Precatórios Já, do mesmo grupo da Transcrito Já, trabalha com a venda desses títulos de dívida do governo.

A oferta de alimentos

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A produção de alimentos, principalmente agrícolas, é mais sensível à oferta do que à demanda

Não há dúvida que um dos mercados mais importantes para a sociedade é o de alimentos, não só por esta ser uma necessidade fundamental ao ser humano mas por empregar milhões de pessoas, por exemplo, seja no campo ou nas fábricas de processamento.

Para ilustrar com dados, a categoria de “alimentação” corresponde a cerca de 1/4 de toda a cesta do IPCA. Ou seja: a cada 4 reais gastos por um brasileiro, em média, 1 real é com alimentação.

Embora não compremos todos esses bens na feira, como no exemplo das batatas, podemos imaginar a rede de produção e distribuição de alimentos no Brasil como uma grande feira, se simplificarmos o pensamento.

Tudo bem que temos uma rede completamente segmentada em etapas – produtores, cooperativas, estocadoras, transportadoras e lojas (varejistas ou atacadistas); ainda assim, o ferramental da oferta e demanda vale para explicar as consequências dessas forças.

Uma abundância de alimentos e/ou pouca demanda por estes tendem a jogar seus preços lá embaixo, enquanto uma oferta restrita ou um aumento brusco na demanda tendem a inflacioná-los ainda mais.

Uma característica interessante dessa categoria é que ela é muito mais sensível à oferta do que à demanda, que é mais estável pois depende basicamente do tamanho e da renda da população.

Já do lado da oferta, os custos envolvem, além da terra, do trabalho e dos equipamentos, um componente muito dependente de fatores climáticos. É muito comum ouvirmos falar, por exemplo, de “quebras de safra” em diversas culturas, como geadas em plantações e falta de chuvas em algumas regiões.

Ano passado, por exemplo, observamos a ocorrência de um fenômeno climático chamado el-niño em território brasileiro. Bem resumidamente, no caso específico do Brasil, ele faz chover demasiadamente em lugares que não precisam de tanta umidade, e o inverso em lugares que precisam.

Sua força atípica no ano passado “quebrou” várias safras de diversos produtos, tanto no nordeste quanto no sudeste, e levou a inflação de alimentos a acelerar de 8,7% para 12% de janeiro a dezembro.

O nome dado pelos economistas para eventos como este é “choque de oferta”, e pode ocorrer em qualquer mercado, não só com alimentos. Retrações abruptas e até inesperadas na oferta tendem a pegar os agentes desprevinidos e aumentar bruscamente o preço dessas mercadorias.

Leilões de energia

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Apesar de regulado pelo governo, o mercado de energia também responde a essas leis

Quem nascido no século passado e não se lembra da crise do Apagão pela qual passamos em 2001?

O fato de não ser um bem tangível não interfere na análise do preço da conta de energia por meio do mecanismo de oferta e demanda, de modo algum!

Em 2015, os preços de energia elétrica aumentaram incrivelmente mais de 50%!!! É consenso que esse componente foi um dos grandes vilões da inflação no ano passado – só esse componente corresponde sozinho por 4% da cesta do IPCA.

A diferença aqui é que esse item pertence a uma categoria chamada de preços Administrados – ou seja, regulados pelo Governo ou agências governamentais. Entretanto, se não expostos diretamente às leis da oferta e demanda, a decisão sobre os preços cobrados por tais agências também baseiam-se nessas leis.

Vejamos o que vem acontecendo em 2016.

De um lado, a queda acentuada na Atividade reduziu bruscamente a demanda por energia (nunca é demais relembrar que o PIB brasileiro caiu quase 4% em 2015 e deve cair algo semelhante neste ano).

Menos fábricas ligadas, menos lojas funcionando e consumidores endividados até o pescoço procurando economizar onde podem provocaram um tombo na energia demandada.

De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo em janeiro deste ano foi quase 7% menor que o mesmo período do ano passado.

Do lado da oferta, tivemos um efeito contrário: após um 2015 com os reservatórios no vermelho (lembra do el-niño?), a volta das chuvas em regiões onde as hidrelétricas precisavam aumentaram bruscamente a oferta de água e, por conseguinte, energia.

Ligando os pontos: um aumento na oferta e uma queda brusca na demanda arrefeceram os preços de energia, que também não poderiam crescer 50% todo ano.

Não é a toa que muitos analistas preveem até mesmo queda nos preços de energia elétrica neste ano – um ano que deve ter uma inflação ainda acima do teto da meta estipulada pelo Banco Central, diga-se de passagem.

Cambistas

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O cambismo, apesar de proibido, ajuda a levar o mercado para um outro nível de equilíbrio, considerado “ótimo”

Um outro caso interessante ocorre quando a oferta de determinado bem é limitada.

A ocorrência de “cambistas” em shows e demais eventos é um bom exemplo disso.

Vamos supor que a banda Maroon 5 decidisse fazer um terceiro show no Brasil, mais “privativo”, digamos, para 500 pessoas. Vamos supor também que a organização do evento achou que um preço de R$100 reais por ingresso traria lucros suficientes.

Não sei quanto a vocês, mas creio que uma banda que levou o público que levou ao Allianz Parque na semana passada consegue vender esses ingressos por um preço muito mais caro!

Dessa forma, me parece um ótimo negócio comprar alguns desses ingressos para tentar revendê-los depois por 200, 500, quem sabe 1000 reais.

Por que? Oras, porque a demanda por ingressos, a esse preço, é muito maior do que apenas 500 pessoas!

Isso leva a uma conclusão importante do modelo de oferta e demanda, e defendido pelos economistas tidos como liberais: um mercado livre de restrições para negociação sempre levará a um equilíbrio, onde os consumidores buscarão maximizar sua utilidade, as firmas procurarão maximizar seus lucros, e um resultado “ótimo social” será alcançado.

Quem estiver disposto a pagar mais pelo ingresso vai fazê-lo, porque este bem (ou evento) tem mais utilidade relativa à renda do que para as outras pessoas.

Ressalto aqui que essa é uma questão muito mais complexa que não chegamos nem perto de resolver no debate econômico, muito menos num exemplo de um show do Maroon 5.

Esse debate interessantíssimo tem séculos de existência, mas fica para uma próxima.

E o mercado de câmbio?

Agora que fomos um pouco mais a fundo nos mecanismos de oferta e demanda, podemos voltar para nosso tópico de estudo inicial – o mercado de câmbio.

É um pouco óbvio agora imaginar o que move os preços do dólar: aumento na oferta de dólares ou diminuição na demanda por estes tendem a depreciá-lo (apreciar o real). Queda na oferta de divisas ou aumento na demanda tendem a apreciá-lo (ou desvalorizar o real).

Entretanto, podemos ir um pouco mais a fundo: o que por sua vez leva a oferta e demanda por dólares crescer ou diminuir?

Como vimos em posts anteriores, a moeda é um bem peculiar pois envolve uma função diferente dos outros bens – a de comprar mais bens. Logo, é de se esperar que as forças de oferta e demanda por moedas sejam mais “peculiares”.

Em 15 dias, esse será o nosso foco!

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