Postado originalmente no Jornal Correio (BA), por Priscila Natividade.
Antes de qualquer coisa, é preciso deixar bem claro que eles não são os ‘bad guys da história’, tão pouco fazem isso para bancar os espertos. Mas o fato é que todo gerente de banco precisa bater metas e por isso vai usar algumas estratégias para convencê-lo a contratar aquele determinado produto ou serviço que precisa ser vendido.
Na segunda matéria da série da Carteira Correio sobre os Mitos e Verdades, especialistas em finanças e educação financeira vão desmistificar estas situações que o consumidor pode enfrentar na ida a uma agência bancária: seja para contratar uma linha de investimento ou negociar a liberação de um crédito.
“Quem paga o salário do gerente é o banco – e não o consumidor. No final das contas, o interesse dele não é exatamente alinhado com o do cliente. Eu já vi muita gente contratar um produto sem entender ou conhecer as regras ou sem ter o perfil adequado. Pergunte, pesquise, busque informações antes de contratar qualquer serviço, produto ou aplicação”, aconselha a criadora do canal Finanças Femininas, Carolina Ruhman Sandler.
Aquele argumento de que é só ‘x’% de taxa ou ‘y’% de tarifa não cola. O sinal de alerta do consumidor também deve ficar ligado com relação ao custo efetivo total (CET) da operação, como sinaliza o economista do portal Juros Baixos, Lereno Soares. “O que você tem que olhar é o resultado final. No CET estão expressos todos os encargos, impostos e taxas. É esse número que você tem que comparar na hora de achar uma linha de crédito cara ou barata”.
1. GERENTE DE BANCO TAMBÉM TEM QUE BATER META
‘Quando o gerente liga do nada para oferecer um produtoas chances de ser algo que ele precisa vender são altas’, afirma Carolina Ruhman Sandler.
Quer um conselho? Ele é gentil e visto até como uma espécie de ‘guru’ pelo cliente que busca uma linha de crédito ou decide investir. O gerente de banco é legal, não dá para negar. No entanto, por melhor e mais bem intencionado que ele seja, ele precisa bater metas de venda. Se o consumidor não estiver armado de conhecimento pode entrar numa fria. “Quando o gerente liga do nada para oferecer um produto, fique atento: as chances de ser algo que ele precisa vender são altas. Além disso, nunca peça uma dica de investimento sem um contexto maior. Pedir ajuda para aplicar o dinheiro sem explicar prazos, perfil e objetivo pode ser uma cilada. É melhor sempre deixar claro o que precisa e comparar produtos em outras institui ções”, aconselha a criadora do canal Finanças Femininas, Carolina Ruhman Sandler.
2. CUSTA SÓ R$ 10
‘É preciso enteder como os bancos ganham dinheiro’, pontua Lereno Soares.
Cesta de serviços Muitas vezes as taxas estão ali sem que o consumidor nem perceba quanto são diluídas em pequenas e ‘irrisórias’ parcelas mensais. E então, mesmo sem saber de onde vem ou porque vem, o consumidor deixa passar. Mas é importante saber quanto custa, inclusive, o valor de uma consulta do extrato, como orienta o economista do portal Juros Baixos, Lereno Soares. “É preciso entender como os bancos ganham dinheiro. Não é ilegal e nem imoral ganhar dinheiro, muito pelo contrário. O que não pode haver é falta de transparência. Por isso, os preços dos empréstimos, investimentos e seguros também variam de banco para banco. É fundamental comparar em diversas instituições financeiras”, diz. E antes de contratar qualquer produto ou serviço, pense se é mesmo necessário adquiri-lo. Também é preciso conhecer sua cesta de serviços, o que ela dá direito e adequá-la às movimentações bancárias que faz. “Não enriqueça o banco à toa. A força do tempo e dos juros compostos é implacável com o seu dinheiro”, completa.
3. CAPITALIZAÇÃO NÃO É INVESTIMENTO
‘O serviço onera o investidor e faz seu capital render a uma taxa praticamente nula’, explica Ramiro Gomes Ferreira.
Sem chance Todo mundo deve ter recebido em algum momento da vida bancária a sugestão de contratar um título de capitalização como se isso fosse um investimento. Porém, é necessário esclarecer logo de imediato que ele não é. Na prática, os títulos de capitalização funcionam como um depósito programado em que o banco vai tirar todo mês um valor da sua conta para comprar este título. Até o momento que ele estiver vigente o consumidor concorre a diversos sorteios. “Essa é uma das preferidas dos bancos. Como o brasileiro gosta de sorteios, o serviço onera o investidor e faz seu capital render a uma taxa praticamente nula, por anos, em troca de chances ínfimas de ganhar prêmios – que, por sua vez, são distribuídos por parte da taxa que o próprio investidor paga”, esclarece o criador do Canal Clube do Valor, Ramiro Gomes Ferreira. Resumindo: é cilada. “É um recurso que poderia ser alocado de outra forma. O consumidor também precisa fazer a sua parte. Questione o porquê de cada recomendação, o custo e o seu retorno”.
4. ESTA INSTITUIÇÃO É MESMO CONFIÁVEL?
‘O nosso mercado é bem regulado pelo BC, o que dar boas garantias para operar com qualquer banco’.
Existem sim outras alternativas Experimente dizer ao seu gerente que está pensando em trocar de banco ou contratar uma conta digital em uma fintech. Ele, provavelmente, vai perguntar se a instituição financeira é realmente confiável. Quem vai tirar dúvida é o diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. “Os grandes bancos podem dizer que somente eles dão segurança aos seus investimentos, mas isto não é necessariamente verdade – o nosso mercado é bem regulado pelo Banco Central (BC), o que nos dá boas garantias de operar bem com qualquer instituição”, afirma. Por isso, a dica é sempre conferir no próprio site do BC se aquela instituição tem autorização para funcionar. Também vale a pena acompanhar as notícias sobre estes bancos e startups financeiras e a reputação deles nos órgãos de defesa do consumidor. Se for investir, observe também se os fundos ou aplicações têm a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – elas garantem até R$ 250 mil por emissor em caso de quebras.
5. ‘SE VOCÊ CONTRATAR ESSE SEGURO…’
‘O banco estará ferindo o princípio básico da relação de consumo’, alerta Ingrid Barth.
Venda casada Não existe vínculo entre um produto bancário e outro. A venda casada é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor e é considerada um crime contra as relações de consumo. Ou seja, o banco não pode te oferecer uma taxa melhor se por um acaso o cliente contratar um seguro residencial, por exemplo. Segundo a diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Ingrid Barth, infelizmente, esta prática ainda é mais comum do que se imagina. “O banco estará ferindo o princípio básico da relação de consumo e se utilizando da vulnerabilidade do correntista. Não há necessidade de contratar um seguro de vida automático para abrir uma conta corrente ou ao pegar um empréstimo. Caso isso aconteça, o cliente pode e deve se manifestar o quanto antes e pedir o reembolso”. Por incrível que pareça, acredite: existem tarifas que o banco não pode cobrar como a compensação de cheques, serviços de internet banking ou sobre o saldo anual consolidado. “O cliente precisa ficar atento e reclamar caso aconteça. Se informe sobre estas possibilidades”.
Se você quiser ver a entrevista original, o link é esse:
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/se-ligue-o-gerente-de-banco-parece-seu-amigo-mas-nao-e/